segunda-feira, 4 de abril de 2011

Brasil: Censo nutricional vai avaliar segurança alimentar nas comunidades quilombolas de ex-escravos negros

O Governo brasileiro vai realizar a partir de abril um censo nutricional nas comunidades quilombolas, grupos étnico-raciais descendentes de escravos negros, para avaliar a situação da segurança alimentar de mais de 11 mil famílias de afrodescendentes.

“A expetativa é diagnosticar a situação da segurança nutricional e alimentar nas comunidades quilombolas onde a situação já estava bastante inferior ao padrão internacional”, disse à Lusa a diretora de avaliação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Júnia Quiroga.

O levantamento é financiado pelo MDS em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e conta ainda com apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), da Fundação Palmares, Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Em 2006, foi feito um estudo com base numa amostra de 60 comunidades quilombolas de 22 estados brasileiros e, neste universo, verificou-se um quadro nutricional precário entre as crianças, admitiu a diretora de avaliação.

“Havia a prevalência de desnutrição crónica entre crianças quilombolas até cinco anos. Em 2006, ficamos alarmados com a falta de acesso a políticas públicas”, disse.

Desta vez, o objetivo é rever a situação atual, por isso decidiu-se por um levantamento censitário das 173 comunidades quilombolas espalhada por 14 estados em 55 municípios brasileiros, que já possuem o título de posse coletiva da terra.

Contudo, existem mais de duas mil comunidades quilombolas certificadas pelo Governo federal que ainda não concluíram o processo jurídico para obter o título, que pode demorar até uma década.

Com 12 equipas formadas por seis investigadores, o censo começa em abril e segue até ao final de julho ou início de agosto. Há muitos locais acessíveis apenas de barco e a maioria está nos estados do Pará, no norte, e do Maranhão, no nordeste.

Entre 70 a 80 pessoas irão recolher os dados de 11 mil famílias e contam com o apoio de mais de 200 lideranças quilombolas.

Os primeiros resultados do censo deverão ser conhecidos em novembro, o mês da consciência negra.

A partir desta recolha de dados, informou Júnia Quiroga, “será possível traçar um georreferenciamento dos domicílios e dos equipamentos sociais disponíveis para as comunidades, como os postos de saúde, escolas, centros de referência de assistência social e pontos de cultura”.

Serão analisadas também as condições de infraestruturas nos domicílios, como saneamento e água potável.

Atualmente, sabe-se que 52 mil famílias quilombolas são beneficiárias do Bolsa Família, programa social de transferência de renda que marcou o governo Lula da Silva e que deverá ter continuidade ainda com Dilma Rousseff.

O censo deverá ser realizado a cada cinco anos. “É um prazo razoável para avaliar as mudanças e fazer novas estratégias para políticas ou reconfigurar essas ações”, afirmou Júnia Quiroga.


http://www.correiodominho.com/noticias.php?id=45828

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