quinta-feira, 28 de abril de 2011

Código Florestal é porta de entrada para ruralistas destruírem mais leis

por Vinícius Mansur*, do Brasil de Fato

Especialista analisa momento da luta em torno do Código Florestal, seu valor estratégico para os ruralistas e cobra posição do governo federal.

Em junho de 2010, a Comissão Especial sobre Mudanças no Código Florestal aprovou o relatório do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Com as eleições batendo à porta, o governo segurou a votação do relatório pelo plenário da Câmara, temendo um desgaste eleitoral - especialmente pelo fator Marina Silva (PV). A então candidata Dilma Rousseff assumiu o compromisso de vetar qualquer mudança que autorizasse novos desmatamentos.

Passada as eleições, a bancada ruralista tensionou a disputa, aprovou um pedido de urgência e tentou, até a última sessão de 2010, colocar o relatório em votação. Apesar de fracassarem, o debate acerca do Código impactou fortemente as articulações para a presidência da Câmara. O atual presidente da casa Marco Maia (PT-RS), ganhou apoio da forte bancada ruralista prometendo a votação até fevereiro. O difícil consenso dentro do governo e sua base, especialmente entre os ministérios de Meio Ambiente e Agricultura, travaram o avanço da pauta e, como alternativa, Maia criou, em março, uma Câmara deNegociação que, até então, pouco caminhou.

No dia 5 de abril, entidades do lobby ruralista, infelizes com a demora nos bastidores, financiaram um evento milionário em Brasília, trazendo milhares de pessoas para defender o relatório de Rebelo. Tentaram demonstrar força ao Palácio do Planalto e dar um verniz popular ao projeto. No dia 7 de abril, outra mobilização, esta em oposição ao projeto, convocada por movimentos do campo e ambientalistas, ocupou a Esplanada. Para avaliar o estágio atual da disputa em torno do Código, o Brasil de Fato entrevistou o mestre em Agroecologia pela UFSC e dirigente do MST, Luis Zarref.

Brasil de Fato - O que esperar dessa Câmara de Negociação?

Luiz Zarref - A Câmara de Negociação não é regimental, nunca tinha acontecido em nenhuma outra votação da Câmara. Inicialmente tinha uma conjuntura boa, com quatro ruralistas e quatro ambientalistas. Hoje são seis de cada lado e mais dois representantes da liderança do governo e dois da minoria. No início, a Câmara ficou cerca de um mês e meio sem fazer nada. Com a pressão nessas últimas semanas, o governo se movimentou mais e o espaço começou a funcionar. Mas, ainda não se tem claro qual é o papel dessa Câmara. Foram três reuniões e todas só serviram para deliberar sobre o recebimento de notas técnicas. Não se sabe se a Câmara servirá só para listar os pontos divergentes ou se serão feitas emendas ao relatório do Aldo Rebelo.

O evento milionário organizado pelos ruralistas fez a balançadas negociações pender para o lado deles?

O tiro saiu pela culatra. Eles queriam trazer essa mobilização e garantir a votação, só que não contavam com a morte do[ex-vice-presidente] José Alencar, que atrasou a pauta em uma semana. Também não contavam que o PT ficaria firme. O Paulo Teixeira [líder do PT na Câmara] disse que o PT não fechará acordo enquanto a proposta do governo não chegar. Já o Marco Maia disse que o texto só entra em votação quando a Câmara de Negociação terminar os trabalhos. Entretanto, mesmo que não tenham alcançado o impacto esperado, o peso que eles jogaram nesta mobilização, a maior que eles já fizeram, demonstra o interesse deles nessa pauta.

O que explica tamanho interesse?

Na nossa leitura, o Código é a porta de entrada para os ruralistas iniciarem a destruição das leis agrárias e ambientais, aquilo que lá em 2009 a Abag [Associação Brasileira do Agronegócio] definiu como prioridade: rever todas as leis do setor para garantir ''segurança jurídica''. Na realidade, a segurança jurídica significa limpar toda a sujeira que fizeram até agora, passar uma borracha no desmatamento, no uso irregular de agrotóxicos e de transgênicos, entre outras. Além de permitir o avanço da propriedade privada e do lucro dos ruralistas. O Código Florestal tem um apelo muito grande na sociedade urbana. Se eles o destroem, dão uma sinalização de poder muito grande. As outras pautas, que não estão na sociedade, seriam derrubadas com muito mais facilidade. Quem é que vai defender o Estatuto da Terra, a Política Nacional de Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a Lei de Águas, ou Código de Águas, sobre recursos hídricos? Está em jogo uma demarcação na guerra de posição muito importante para eles, porque o Código é uma lei que historicamente eles tentam destruir e ainda não conseguiram.

O Código Florestal lhe parece uma legislação adequada?

Ele já é fruto de uma avaliação de algo que não deu certo, o Código de 1934. Ele surge em 1965 e, apesar de aprovado no primeiro ano da ditadura, foi concebido em um ambiente progressista. Uma sociedade que não discutia meio ambiente sem discutir questão agrária. E ele é discutido em cima de uma disputa mundial entre socialismo e capitalismo. Então, havia uma tendência de se discutir a função social da propriedade. O Código criou a figura da Reserva Legal (RL), que não existia em lugar nenhum do mundo e que recentemente criaram no Paraguai. Com a RL, uma parcela da propriedade privada tem que ser destinada ao interesse público. O primeiro artigo do Código Florestal diz que ''as florestas são bem de interesse comum da sociedade brasileira''. Ou seja, estão acima dos interesses privados. Poderíamos ter adotado o ambientalismo conservador, que foi adotado depois da década de 70 pela ditadura, que era o modelo dos EUA, do parque Yellowstone. Ou seja, tirar a área da propriedade privada, isolá-la dos seres humanos e pronto. Porém, nosso Código traz para dentro da propriedade privada uma imposição da sociedade brasileira: uma parcela daquela propriedade deve ser utilizada sustentavelmente. Ele já colocava o conceito sustentável, um discurso bem avançado para época.

De que maneira as mudanças propostas por Aldo Rebelo prejudicam a agricultura de menor porte e beneficiam o agronegócio?

O agronegócio artificializa o meio ambiente. Ele mexe com a terra toda, usa o pacote da revolução verde, degrada e depois de 10 anos vai embora para outra região. Não é à toa que agora estamos vendo a expansão da fronteira agrícola no Maranhão, Piauí e Tocantins, um pouco da Bahia também. Destruíram as terras do Sul, destruíram as terras na região Centro-Oeste e na fronteira com a Amazônia e agora estão indo para esta outra área que se estima ter 30 a 40 milhões de hectares. O agronegócio tem essa relação ecossistêmica de destruição. A agricultura camponesa não. Se você tira a RL dessas propriedades, diminui-se a Área de Preservação Permanente (APP), se você não trabalha com a recuperação dessas áreas, no médio prazo, esses agricultores terão suas terras inviabilizadas. A RL é interessante naquele microclima, naquele microespaço, porque ela impacta na polinização de várias culturas, impacta sobre predadores naturais, então veremos um aumento dos índices de pragas, ela impacta na adubação da terra, impacta no fornecimento de água, muda o clima daquele espaço, impacta no agricultor que terá que comprar madeira para qualquer coisa que queira fazer.

O relatório do Aldo não aponta para o centro da questão: o problema não é a lei, mas a falta de regulamentação e implementação por parte do Estado brasileiro. Se você for ao campo, verá que os agricultores têm o seu pedaço de floresta. Dali ele tira as plantas medicinais, as ferramentas, os palanques para os galpões, ele gosta de ver aquilo. O que ele não gosta é da polícia ambiental ir fazer repressão. Faltam recursos para o agricultor recuperar as áreas que ele tem de passivo. E mesmo que o projeto do Aldo libere propriedades com menos de quatro módulos fiscais das RLs, as APPs terão que ser recuperadas. De onde que ele vai tirar esse dinheiro? Não tem nada no relatório prevendo isso.

E o que explica a adesão de entidades da agricultura familiar a este projeto?

A Contag está indo para o discurso imediato, reacionário, que só leva ao fracasso da agricultura familiar, um desserviço histórico. Para a agricultura familiar, a solução é de longo prazo. Porque é quem tem relação com a terra. Para o agronegócio há solução imediata, porque daqui a dez anos, eles fazem um tratoraço e vem limpar as lambanças deles de novo. A agricultura familiar não, mesmo que se mude a lei, as terras vão ficar inviabilizadas. A Contag renegou o debate político com a sua base. Preferiu se submeter a pressão do imediatismo. Há também uma disputa interna na Contag, entre as federações que tem ligação com PT e CUT e federações que tem ligação com o PCdoB e CTB. Então, muito provavelmente houve uma ingerência do PCdoB dentro da Contag para pressioná-los. O pior é que nem emendas ao relatório fizeram, basicamente aderiram, sem enfrentamentos com o agronegócio.

Reforçaram a polarização benéfica aos ruralistas dos produtores versus ambientalistas?

Isso. Essa posição deles é funcional ao agronegócio. Diferente da década de 80 e 90, nessa primeira década do século XXI há a hegemonia do agronegócio, que conseguiu passar por propaganda que é ele quem produz para o Brasil. E nessa disputa do Código, eles usaram dessa imagem para dizer que quem quer as mudanças são os verdadeiros produtores, quem não quer são os ambientalistas, que ganham muito bem e não tem nada a ver com quem produz no campo. E a mídia comprou muito isso. Porque os movimentos sociais como a Fetraf, o MST, o MPA, a Via Campesina e outros vêm discutindo o tema, mas suas posições não ganham a mesma reverberação. Não aparece que os pequenos agricultores estão de um lado e os grandes de outro, que nós somos produtores e temos uma posição diferente. Somente produtores versus ambientalistas.

Quais os próximos passos dessa luta?

Intensificar o debate na sociedade e pressionar o governo para tirar uma posição que altere a correlação de forças. O indicativo do presidente da Câmara é que a votação vá para maio, depois de finalizado os trabalhos da Câmara de Negociação. Mas dificilmente haverá votação sem indicação clara do governo.

*De Brasília (DF).

**Publicado originalmente no site do Brasil de Fato.

(Brasil de Fato)

Mãe Terra nossa Natureza

Avaliação nutricional de quilombolas começa no Rio Grande do Sul

Por Redação Pantanal News/MDS

Comunidades quilombolas tituladas de Porto Alegre e Canoas, no Rio Grande do Sul, recebem, a partir de hoje (26), as visitas dos pesquisadores do Núcleo de Pesquisa, Informação e Políticas Públicas da Universidade Federal Fluminense (DataUFF). A instituição, contratada por meio de licitação pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), vai coletar dados da pesquisa de avaliação nutricional.

O estudo, conduzido pelo MDS, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), busca analisar o perfil nutricional de crianças menores de 5 anos e avaliar a situação socioeconômica das famílias. Além da capital gaúcha e de Canoas, outros 53 municípios brasileiros serão pesquisados. O levantamento, que será realizado em 173 comunidades quilombolas, também vai investigar o acesso dessas comunidades aos serviços, benefícios e programas governamentais.

A equipe de pesquisadores começou o trabalho de campo nacional no dia 9 deste mês. Comunidades quilombolas maranhenses, cariocas e paulistas já receberam as visitas dos pesquisadores. Agentes comunitários de saúde também ajudam a pesar e a medir as crianças.

Responsável pela coordenação do estudo, o MDS prevê entrevistar 11 mil famílias. Segundo a coordenadora da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi), Rovane Ritzi, todas as avaliações nas comunidades gaúchas serão feitas em apenas dois dias. “Essas comunidades são urbanas e de fácil acesso, por isso os pesquisadores coletam rapidamente os dados”, explica.

Oficinas – Antes do trabalho de campo, o MDS fez oficinas técnicas regionais com lideres comunitários. Nessas reuniões, foram apresentados os objetivos e a metodologia da pesquisa. As oficinas foram realizadas em Brasília, Belém e Santarém, no Pará, e em São Luís. Os dados do estudo serão publicados em 2012.

A Sagi é responsável pela avaliação e pelo monitoramento de políticas, programas, ações e serviços executados MDS. Essas atividades são realizadas por meio do Sistema de Avaliação e Monitoramento, que engloba a produção de indicadores para acompanhar a execução dos programas, o desenvolvimento de ferramentas para o tratamento das informações, além de estudos e pesquisas realizados em parceria com instituições públicas e privadas que avaliam a implementação e os resultados dessas ações.


http://www.pantanalnews.com.br/contents.php?CID=69657

Menos de 1% das multas do Ibama são quitadas, diz relatório

Documento do órgão traz panorama entre 2005 e 2010. No ano passado, índice foi ainda menor do que a média: de 0,2%

Agência Estado

Menos de 1% do valor das multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por infrações ambientais chegam efetivamente aos cofres públicos, aponta relatório do próprio órgão obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo. O documento traz um panorama das autuações feitas entre 2005 e 2010. O porcentual médio de multas pagas no período foi de 0,75%. No ano passado, o índice foi ainda menor - apenas 0,2%.

Os dados mostram ainda que o número de multas aplicadas caiu 42% no período - de 32.577 multas em 2005 para 18.686 em 2010, bem como os valores relacionados a essas multas. A maior parte das autuações está associada a crimes contra a flora, o que inclui desmatamentos, queimadas e venda de madeira ilegal.

Há ainda estados com autuações bilionárias. É o caso do Pará, que desde 2005 encabeça a lista de recordistas em multas por infrações ambientais. Só em 2010, o valor das autuações soma R$ 1,02 bilhão. Mato Grosso vem em segundo lugar, com R$ 376,5 milhões em 2010.

O baixo porcentual de multas efetivamente pagas reflete, segundo o próprio Ibama e especialistas, a complexa tramitação dos processos de apuração de infrações ambientais. "O processo administrativo de apuração de infração ambiental não tem o poder de, per si, garantir o pagamento de multa", explicou o Ibama em nota.

Cerca de 16% da agricultura familiar no Brasil é formado por jovens

Pequenos agricultores sonham com uma vida melhor

Maíra Gatto | Planaltina (DF)Atualizada às 20h53min

A agricultura familiar emprega 12 milhões de pessoas no Brasil. Desses, 16% são jovens entre 14 e 24 anos. Os pequenos agricultores sonham com uma vida melhor para suas famílias, mas sem sair do campo.

A agenda do agricultor Paulo Henrique Santana é cheia. Pela manhã, ajuda o pai nos 14 hectares de hortaliças e frutas. Após vai para o curso na área de tecnologia. À tarde, a aula é agrícola. No fim do dia é técnico de informática à distância. Aos 19 anos, o seu plano de vida está traçado.

– Pretendo ficar aqui até quando eu puder. Ficar dentro da área rural e trabalhar pra mim é excelente. A gente vê por ai muito desemprego. Por quê? O campo hoje está sendo tecnológico. Você vê trator com computador a bordo, com GPS, com tudo isso e quem não têm os cursos de informática, de tecnologia vai ficando pra trás – conta.

As oportunidades, ele diz, são mérito próprio. A ajuda do governo poderia vir de outra forma.

Para o jovem que vive na zona rural, muitas vezes as dificuldades estão do lado de fora da propriedade. A maioria dos acessos é de chão batido e o transporte público muitas vezes não atende a demanda. Por isso, para conciliar trabalho e estudo só mesmo com veiculo próprio.

– Se você quer fazer um curso tu não pode porque os horários do transporte rural não batem. Os ônibus são péssimos, saúde também é péssima, falta médico, falta tudo.

A 70 quilômetros da propriedade de Paulo, mora Mariana de Jesus. Residindo com os pais e oito irmãos, também sente falta da infra-estrutura para construir os sonhos.

– O transporte é ruim porque passa três vezes ao dia, e não tem hora certa, então pra quem trabalha na cidade não tem hora certa pra chegar. Então não tem nem como conseguir alguma coisa desse jeito – relata.

Na plantação a Mariana ajuda a família principalmente na colheita. Ela conta que já sofreu preconceito por ser mulher, mas se inspirou na historia de vida da própria mãe para superar os desafios.

– Muitos falam assim: você é mulher e não vai dar conta de fazer esse serviço. Hoje em dia as pessoas estão vendo que a mulher esta tomando a frente. Aqui em casa mesmo a minha mãe toma a frente das coisas, a minha mãe é o braço forte, ela é a parte que não deixa cair, não deixa desanimar – ressalta.

Mariana e Paulo são colegas no curso da Emater que forma jovens líderes no campo. Nos encontros mensais eles debatem alternativas para os problemas da sua região.

– Nenhuma instituição vai resgatar laços familiares, laços comunitários, resgatar aços culturais, culturas de uma região. São os próprios moradores, os próprios jovens as próprias famílias desses locais é quem podem fazer isso. A gente está tentando dar uma ajudinha – explica Maria Bezerra, Extensionista Rural Emater.

Educação para estimular as mudanças, é o que defende a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura, que já qualificou 30 mil jovens rurais com o ensino a distância.

– Com acesso a informação nós inclusive temos a oportunidade de buscar mais políticas para poder viver nesse espaço com qualidade de vida, pra nós e para nossas famílias e principalmente para se organizar enquanto jovens para transformar a nossa realidade, o nosso local, e transformar esse país – conta Elenice Anastácio, Secretária de Jovens da Contag.

Nos últimos anos, os programas públicos de acesso ao crédito ajudaram a manter 26 mil jovens agricultores no campo. Ainda é pouco. Até o governo federal reconhece: faltam políticas com foco na zona rural.

– O desenvolvimento do meio rural brasileiro, o enfrentamento de um processo de êxodo rural, ele passa por um processo de investimento para criar no campo brasileiro aquelas condições que qualquer cidadão procura, deseja ter quando vive na cidade. Isso envolve o acesso a todos os serviços sociais, aos serviços básicos, a cultura, ao lazer, a segurança pública, a saúde, a educação – reforça Ademar Almeida, Secretário de Reordenamento Agrário do MDA.

CANAL RURAL
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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ministério do Meio Ambiente lança consulta sobre estratégia nacional de conservação da biodiversidade

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lança nesta sexta, dia 8, a consulta para a estratégia de conservação e uso sustentável da biodiversidade do Brasil para o período 2012-2020. O encontro contará com a presença da ministra britânica do Meio Ambiente, Caroline Spelman.

Denominado Diálogos sobre Biodiversidade: Construindo a Estratégia Brasileira para 2020, o encontro busca engajar a sociedade brasileira em um processo para fortalecer a implementação dos acordos da 10ª Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (CBD COP10), que aconteceu em outubro de 2010 em Nagoia (Japão).

O encontro pretende envolver um grupo abrangente de representantes da academia, setor privado, sociedade civil e governo para discutir como o Brasil pode contribuir para que as metas estabelecidas em Nagoia sejam atingidas.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
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Movimentos sociais protestam contra reforma do Código Florestal e uso de agrotóxicos

Pequenos agricultores, trabalhadores rurais sem terra, ambientalistas, representantes das populações atingidas pela construção de barragens, quilombolas, estudantes e integrantes de várias entidades sociais promoveram nesta quinta-feira, em Brasília, uma marcha contra a reforma do Código Florestal e o uso de agrotóxicos.

Segundo Paola Pereira, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os movimentos sociais decidiram aproveitar o Dia Mundial da Saúde, comemorado hoje, para lançar a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. O principal objetivo da iniciativa é conscientizar a população sobre os riscos do uso indiscriminado de defensivos agrícolas, a falta de fiscalização, a contaminação dos solos e águas por essas substâncias e seu impacto na saúde dos trabalhadores rurais e da população em geral.

— É preciso discutir o assunto entre os agricultores, nas escolas, nos espaços públicos e projetos de lei. Temos que pressionar o governo para que suas agências fiscalizem, de fato, a utilização dos agrotóxicos. Desde 2009, o Brasil é campeão mundial no uso destes produtos — afirmou Paola.

Os manifestantes também se posicionaram contra o projeto de reforma do Código Florestal apresentado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Para José Josivaldo Alves de Oliveira, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a proposta de Aldo Rebelo seria "um grave retrocesso em termos ambientais".

— A questão da mudança do Código Florestal unificou os vários movimentos sociais. E, embora não tenhamos ilusão e saibamos que é uma luta difícil e desigual, estamos convencidos de que se conseguirmos mobilizar a sociedade brasileira, conseguiremos evitar que o projeto do deputado seja aprovado — declarou Josivaldo.

Integrante da direção da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Maria da Graça Amorim, defende que o atual Código Florestal não é empecilho para a produção agrícola familiar e que as mudanças propostas beneficiarão apenas os grandes produtores.

— Nós só precisamos de alguns hectares para produzir. Já o agronegócio pegou as melhores terras, as desmatou porque não mora nelas, coloca agrotóxico porque não consome o que produz e, agora, ainda quer desmatar as beiras dos rios.

Os integrantes dos movimentos sociais também entregaram um documento, com seu posicionamento acerca do Código Florestal, à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. As entidades defendem a manutenção dos atuais índices de reserva legal e de áreas de preservação permanente, bem como a obrigação da recuperação de todo o passivo ambiental nessas áreas, a não-anistia aos desmatadores, a criação de políticas públicas que garantam a recuperação produtiva das áreas protegidas e o desmatamento zero em todos os biomas brasileiros, com exceção dos casos de interesse social.

AGÊNCIA BRASIL
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quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Equilíbrio entre economia e ecologia é fundamental"

Syanga Abílio apela ao uso de tecnologias que não poluam a atmosfera

Angola realiza, de 26 a 29 de Maio, uma feira internacional sobre equipamentos, serviços e tecnologias ambientais. O vice-ministro do Ambiente, Syanga Abílio, pede às empresas nacionais para participarem na feira, porque é a melhor forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável. O sector empresarial é chamado a combater situações que destroem o Ambiente: "devemos introduzir as melhores práticas na exploração mineira e petrolífera e de uma maneira geral na exploração e transformação dos recursos naturais", disse o vice-ministro em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola.

Jornal de Angola - A primeira Feira Internacional do Ambiente em Angola, pode significar uma nova era?

Syanga Abílio -
Esta feira marca o início daquilo que podemos considerar a promoção do conhecimento e o uso das tecnologias ambientais, que são as que menos poluem e agridem o ambiente. Nesta feira pretendemos juntar as empresas fornecedoras de tecnologias e equipamentos às as empresas utilizadoras no ramo da Economia, da Energia, Agricultura, Águas e Indústria. As tecnologias ambientais no nosso país são ainda uma novidade, embora o mundo assista a um incremento do mercado das tecnologias ambientais.

JA - Angola está a crescer em termos de protecção do ambiente?

SA -
Nós somos um país em desenvolvimento. Estamos a crescer mas é importante pensarmos em tecnologias limpas, não basta sermos parte da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas e do Protocolo de Kyoto, embora em termos de poluição Angola seja insignificante comparando com a poluição mundial. Pensamos que as tecnologias ambientais representam uma oportunidade de negócios, porque são as empresas que conduzem as tecnologias e essas empresas uma vez localizadas em Angola podem desenvolver outras actividades, criando parcerias com empresas angolanas e gerarem mais empregos.

JA - O Ministério do Ambiente vai estar na feira?

SA -
O Ministério do Ambiente vai ter o papel de facilitador e promotor, junta os utilizadores e os fornecedores e cria também um ambiente de mercado e consciencialização. Vamos juntar cem expositores e de acordo com os sinais que estamos a receber este número tende a aumentar, tendo em conta o interesse que as empresas estão a manifestar. Há um grande interesse nesta feira.

JA - Além das tecnologias ambientais vão estar representadas na feira outras actividades?

SA -
À margem da feira vamos promover seminários sobre o ambiente. No nosso país temos materiais que não aproveitamos, como plástico, garrafas, madeira ou papel. Infelizmente, no nosso país ainda não temos a hábito de fazer a separação destes resíduos. É essa vertente que queremos promover: a utilização e reutilização de alguns materiais.

JA - Vão estar representadas empresas de que países?

SA -
Em termos de empresas estrangeiras temos pedidos do Brasil, Portugal, Suíça, Espanha e China. São esses países com que vamos contar para a feira. Mas prevemos que este número tende a aumentar, o que é uma mais valia para o nosso país.

JA - Como está Angola na área das tecnologias ambientais?

SA -
Angola está numa fase incipiente, ainda não é uma prática corrente o uso das novas tecnologias. As empresas que temos na área industrial usam tecnologias tradicionais e a sua substituição representa um custo elevado. O Ministério do Ambiente tem recebido informações sobre a existência de empresas em Luanda que produzem óleo alimentar e que no processo de fabricação há cheiros estranhos que incomodam a população. Penso que estão a usar tecnologias tradicionais pouco amigas do ambiente.

JA - O Ministério do Ambiente está a actuar nessas situações?

SA -
Hoje já existem no mercado tecnologias mais amigas do ambiente, que podem conviver com zonas habitacionais. O nosso apelo a essas empresas é que adoptem procedimentos e mecanismos que não provoquem problemas ao ambiente. Já existem tecnologias que respeitam o ambiente e a saúde humana.

JA - Há problemas de poluição sonora?

SA -
Também temos registado muitas queixas sobre poluição sonora dos geradores de luz eléctrica, que poluem a atmosfera e são muito ruidosos. Hoje também já existem máquinas e equipamentos que as pessoas podem adquirir. Existem geradores silenciosos. Temos de aderir a essas tecnologias para que todos tenhamos uma vida e um ambiente sadio.

JA - Que ganhos pode esta feira dar ao nosso país?

SA -
Os ganhos são sempre grandes. Sabemos que qualquer poluição provoca problemas à saúde pública. Uma melhor gestão dos resíduos e o seu tratamento podem produzir muitos ganhos à saúde pública e ao sector da economia. As empresas interessadas na feira podem no futuro instalar-se em Angola, criando parcerias e gerando mais empregos. De um modo geral os ganhos são muitos.

JA - Angola está a dar passos no caminho das tecnologias modernas?

SA -
Há muitas empresas estrangeiras interessadas em investir no nosso país. Nós vamos continuar a promover políticas ambientalistas que combatam a poluição e outras práticas que agridam o ambiente. Somos apologistas do equilíbrio que deve existir entre a economia e a ecologia. Se queremos crescer temos que crescer com as melhores práticas ambientais para não pagarmos amanhã uma factura muito elevada.

JA - A paz ajuda a promover políticas ambientais?

SA -
Nos anos de paz o Executivo tem feito muitas realizações na recuperação das nossas infra-estruturas, mas também está a criar condições para que o país se desenvolva e para fazermos um corte com o passivo ambiental resultante do conflito armado. Nessa altura era quase impossível controlar a indústria extractiva.

JA - Foram tomadas medidas correctivas?

SA -
Hoje estamos a estabelecer normas e procedimentos ambientais na exploração de inertes que não põem em perigo a vida das pessoas. Estamos a combater a poluição atmosférica porque tem graves consequências para a saúde. Temos que precaver estas situações introduzindo melhores práticas na exploração mineira, petrolífera, e de uma maneira geral na exploração de todos nossos recursos e na sua transformação.

JA - De que forma o Ministério do Ambiente tem actuado junto dos potenciais poluidores?

SA -
O Ministério do Ambiente tem estado a conduzir várias campanhas de educação e consciencialização ambiental. Estamos a desenvolver um árduo trabalho para as pessoas respeitarem os valores ambientais, mudarem comportamentos e hábitos para melhor protegerem e preservarem o ambiente. Estamos a educar também as empresas que exploram e transformam matérias-primas e as que vendem serviços.

JA – Poluem de igual maneira?

SA –
Claro que não. Às empresas que exploraram recursos e produzem bens e recursos estamos a fazer tudo para que usem tecnologias que vão ao encontro da protecção do ambiente. Hoje a nível mundial assistimos ao uso de tecnologias ambientais modernas porque é importante assegurar a vivência sadia na sociedade, já que estamos numa fase em que o desenvolvimento sustentável é um desafio mundial. Em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro juntaram-se três pilares na questão do desenvolvimento sustentável: Ambiente, Economia e sector Social). O Ambiente toca várias áreas, é uma actividade transversal e é bom que todos os sectores se preocupem com a questão ambiental se de facto queremos garantir um desenvolvimento sustentável.

JA - Quanto vai ser investido para a realização da feira?

SA -
Temos um orçamento que ronda os 400 mil dólares para realização da feira. Este valor tende a aumentar, depende do interesse das empresas em participar.

JA - Estão a mobilizar as empresas nacionais?

SA -
Apelamos às empresas angolanas para participarem em força. O mercado não é só para as empresas estrangeiras. Hoje também já temos empresas angolanas que estão a desenvolver melhores práticas ambientais ainda desconhecidas e esta feira é uma oportunidade para mostrarem essas práticas. Dizemos às nossas empresas para aproveitem esta oportunidade. É importante que estejam presentes e que contactem com potenciais fornecedores de produtos que podem ser importantes para introduzir no nosso processo de fabricação e produção de forma a protegermos o ambiente.

Feira do Ambiente mostra tecnologias

A Feira Internacional do Ambiente em Angola vai mostrar equipamentos, serviços e tecnologias ambientais entre os dias 26 a 29 de Maio, em Luanda, nas instalações da Feira Internacional de Luanda (FIL) e é uma realização do Ministério do Ambiente e os seus parceiros.
A feira vai permitir a redefinição do posicionamento de Angola no contexto internacional onde ambiciona conquistar uma posição de destaque e de referência na área do ambiente.
O Ministério do Ambiente pretende, com a feira, identificar as tecnologias adequadas à protecção ambiental. Para isso, vão estar em exposição novos produtos, serviços e tecnologias ambientais, ao mesmo tempo que se pretende tornar a feira no ponto de encontro, em África, dos mais destacados profissionais, com o propósito de comunicar benefícios e partilhar boas práticas.
A feira conta com o apoio do Executivo e a participação de fornecedores de soluções, utilizadores de tecnologias, investidores de vários países, além de institutos académicos. Surge no seguimento da crescente aposta nas políticas ambientais que se reflecte no investimento de 2,2 milhões de dólares no sector e nos compromissos assumidos pelo Executivo a nível internacional com o Protocolo de Kyoto ou a Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.
A feira é o reflexo da importância crescente das tecnologias ambientais em Angola. A introdução de novos produtos, serviços e tecnologias ambientais vai funcionar como um grande estímulo à economia, através da criação de novas empresas e postos de trabalho.
Desta forma é aliada a melhoria ambiental à melhoria de qualidade de vida das populações, contribuindo para o desenvolvimento sustentável de Angola. Este é um dos principais objectivos do Ministério do Ambiente ao promover a feira.
A "Feira Ambiente Angola" é dirigida a um vasto conjunto de investidores, visando envolver os empresários nacionais e internacionais e a população angolana num mesmo objectivo: tornar Angola mais verde.


http://jornaldeangola.sapo.ao/25/0/equilibrio_entre_economia_e_ecologia_e_fundamental


Polêmica do Código Florestal atinge agricultura familiar

Por Adriane Bertoglio Rodrigues, especial para EcoAgência de Notícias Ambientais

A biodiversidade não é entrave ou problema, é a solução. A afirmação é do biólogo e professor da Ufrgs, Paulo Brack, que participou do Terça Ecológica, tradicional evento do Núcleo dos Ecojornalistas (Nej/RS), em parceria com outras entidades. Na noite de 5 de abril, em Porto Alegre, o encontro promoveu o debate das Propostas de Mudança do novo Código Florestal, e foi realizado na sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado (Crea-RS), reunindo engenheiros, arquitetos, ambientalistas, jornalistas e estudantes. Durante o debate, representantes do Forum em Defesa do Código Florestal anunciaram a realização de Audiência Pública, no próximo dia 14 (quinta-feira), às 19h, na Câmara de Vereadores da capital gaúcha.

No debate, além de Brack, mestre em Botânica, doutor em Ecologia e Recursos Naturais e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), participou o engenheiro florestal Luiz Ernesto Grillo Elesbão, coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Florestal do Crea-RS, mestre em Manejo Florestal, doutorando em Engenharia Florestal, e professor da UFSM. Para eles, a sociedade tem manifestado sua insatisfação, mas "precisa pressionar", conclamou Brack.

A polêmica na alteração do Código Florestal se deve especialmente à redução da área de proteção permanente (APPs) na margem de rios e riachos e em determinadas altitudes, à flexibilização da Reserva Legal, à anistia para produtores que desmataram antes da legislação sobre o tema; às formas de compensação por áreas já desmatadas e a algumas normas específicas para a agricultura familiar.

De acordo com os palestrantes, há muita confusão. "APP, por exemplo, não é só mata ciliar, mas todo tipo de vegetação", diz Elesbão, ao citar os pomares de espécies frutíferas e mesmo os plantios de eucaliptos. Já a Reserva Legal, explica, é a área na propriedade rural que deve manter a vegetação original. Para Elesbão, é precico integrar o sistema produtivo existente com as políticas públicas, planejando a partir da realidade já constituída.


A partir do Decreto 7029/09, que institui o Programa Federal de Apoio à Regularização Ambiental de Imóveis Rurais, denominado "Programa Mais Ambiente", os municípios passaram a definir o tamanho do módulo fiscal. A agricultura familiar está enquadrada no índice de área entre um e quatro módulos fiscais. Mas, de acordo com Elesbão, cada módulo fiscal, no Brasil, varia, de município para município, entre cinco e 110 hectares. "Caso as alterações ao Código Florestal sejam aprovadas, a agricultura familiar pode desaparecer", alerta Elesbão, ao observar que, de acordo com a proposição, propriedades com até quatro módulos fiscais não terão mais obrigação de manterem os 20% de área de Reserva Legal. "Quando esse substitutivo for aprovado, os municípios vão apresentar as suas camaras de vereadores projetos de aumento de tamanho do módulo fiscal para utilizar toda a propriedade para a produção", antecipa o professor.

Outro absurdo do novo Código, citado por Elesbão, é o que dá anistia ampla e irrestrita a todo devastador multado até o dia 22 de julho de 2008. "Até os juristas questionam essa proposta", critica. Para ele, é preciso compensar ou premiar quem protege o ambiente. "Tem muita gente que trabalha dentro do padrão, obedecendo os parâmetros ambientais e legais", diz. "Será que através do PL, aprovado ou com emendas, vamos resolver os problemas ambientais", questiona. E acrescenta que é preciso uma mudança profunda nas atitudes de todos, seja do meio rural ou do urbano. "A realidade de nossos atos nos mostra isso todos os dias", observa.

Biodiversidade e Sustentabilidade

A riqueza da biodiversidade do RS foi destacada pelo biólogo Paulo Brack. Para ele, a sustentabilidade, inclusive a econômica, depende da biodiversidade. "Por isso é preciso definir o que devemos proteger e promover estudos de valoração ambiental", diz, ao anunciar que de 15 a 20% das espécies do mundo ocorrem no Brasil. "Essa riqueza poderia gerar em torno de R$ 4 trilhões/ano", calcula Brack, ao lamentar a biopirataria, que atinge diversas espécies, como o açaí e o palmito juçara.

Brack também sugere o incremento ao turismo rural como forma de conservar o ambiente e gerar renda aos agricultores. Ele cita, como comparação, os Estados Unidos, que gera U$ 80 bi/ano com o turismo ligado à natureza. "São oportunidades que precisamos incentivar para garantir a preservação de centenas de espécies, muitas ameaçadas".

No Rio Grande do Sul, o Bioma Pampa possui, por exemplo, 80 espécies de cactáceas, sendo que metade dessa riqueza está na lista da flora ameaçada de extinção. Há ainda 180 espécies de frutas nativas, como o araçá, "mantidas nas Reservas Legais. Como fica se for destruída a área com essa diminuição da preservação", questiona Brack.

A monocultura, incentivada com esse projeto substitutivo do Código Florestal, também é criticada por Brack. "Hoje, existem lavouras de soja do Sul à Amazônia e 1/3 das exportações estão calcadas em grãos e commodities", lamenta, ao citar, entre 2004 e 2008, o aumento de 44,6% no uso de herbicidas, para um incremento de área de produção de 4,59%. "Com a venda de transgênicos não houve diminuição do uso de agrotóxicos, até porque as chamadas ervas daninhas criaram resistência", observa Brack. Para ele, o incentivo às monoculturas provoca a perda de muitas espécies por ano. "Estimativas indicam que até 2022, cerca de 22% das espécies estarão extintas".

Brack alerta que "estamos vivendo um estado de insegurança alimentar. Além disso, o brasileiro se alimenta mal, pois não utiliza a riqueza de nossa biodiversidade". Para o professor e pesquisador, é preciso mudar nossos padrões de produção e de consumo, valorizando o que temos de natural, como por exemplo a Macaúba, que produz quatro toneladas de óleo por hectare, enquanto que a soja produz 700 quilos por hectare. "Nesse caso, a palmeira tem uma produção mais sustentável do que a soja e esses valores precisam ser revistos", defende.

O programa Mais Ambiente prevê a averbação dos imóveis rurais até 11 de junho de 2011. A partir desta data, os proprietários que não regularizaram suas reservas serão notificados e terão 180 dias para tomarem providências. Se não o fizerem, serão penalizados com multas diárias. A averbação em cartório será gratuita para pequenas propriedades. As reservas que estiverem degradadas devem ser recuperadas, até 2031 (prazo determinado pelo Código Florestal).
 
Em Brasília, segue o embate
Nesta quinta-feira, a manifestação será dos ambientalistas

A polêmica em torno do substitutivo do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ao PL 1876/99 e a outros nove projetos que tratam do tema tem se acirrado entre ambientalistas e ruralistas. O projeto aguarda votação no Plenário do Congresso Nacional e só depois será submetido ao crivo do Senado.

Ainda na terça-feira (5), em Brasília, o Grupo de Trabalho sobre o Código Florestal discutiu o prazo para sistematizar as sugestões da sociedade, mas não chegou a um consenso. De acordo com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), o substitutivo será votado assim que forem concluídos os trabalhos da câmara de negociação. A sistematização das contribuições enviadas pela sociedade e por órgãos governamentais deve prosseguir. A nova reunião do grupo deve ocorrer na próxima terça-feira (12).

Também em Brasília, está previsto pra amanhã, quinta-feira (7), uma marcha na Esplanada dos Ministérios até o Congresso, com a participação de organizações ambientalistas, trabalhadores sem-terra e entidades de defesa da agricultura familiar. O objetivo é protestar contra o substitutivo de Aldo Rebelo e em apoio à reforma agrária.

Enquanto os defensores de um relaxamento do Código Florestal têm pressa e pedem apenas uma semana para a análise dos documentos, os que querem manter o código com o rigor atual, como defende o presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, Sarney Filho (PV-AM), querem pelo menos três semanas. Para o deputado Ivan Valente (Psol-SP), no entanto, o assunto não foi suficientemente amadurecido na atual legislatura. "Nós temos 240 deputados novos, que nunca ouviram falar nesse debate do Código Florestal. Por isso, ele precisa ser aprofundado aqui na Câmara."

Após a reunião do Grupo de Trabalho sobre o Código Florestal, a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira admitiu a possibilidade de o Governo novamente prorrogar o prazo (até 11 de junho, segundo o Decreto 7.029/09) para que proprietários de imóveis rurais sejam obrigados a averbar a área prevista para Reserva Legal, sob pena de multa diária de até R$ 500,00 por hectare ou módulo fiscal. A prorrogação visa dar maior segurança jurídica aos agricultores.

EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Brasil: Censo nutricional vai avaliar segurança alimentar nas comunidades quilombolas de ex-escravos negros

O Governo brasileiro vai realizar a partir de abril um censo nutricional nas comunidades quilombolas, grupos étnico-raciais descendentes de escravos negros, para avaliar a situação da segurança alimentar de mais de 11 mil famílias de afrodescendentes.

“A expetativa é diagnosticar a situação da segurança nutricional e alimentar nas comunidades quilombolas onde a situação já estava bastante inferior ao padrão internacional”, disse à Lusa a diretora de avaliação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Júnia Quiroga.

O levantamento é financiado pelo MDS em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e conta ainda com apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), da Fundação Palmares, Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Em 2006, foi feito um estudo com base numa amostra de 60 comunidades quilombolas de 22 estados brasileiros e, neste universo, verificou-se um quadro nutricional precário entre as crianças, admitiu a diretora de avaliação.

“Havia a prevalência de desnutrição crónica entre crianças quilombolas até cinco anos. Em 2006, ficamos alarmados com a falta de acesso a políticas públicas”, disse.

Desta vez, o objetivo é rever a situação atual, por isso decidiu-se por um levantamento censitário das 173 comunidades quilombolas espalhada por 14 estados em 55 municípios brasileiros, que já possuem o título de posse coletiva da terra.

Contudo, existem mais de duas mil comunidades quilombolas certificadas pelo Governo federal que ainda não concluíram o processo jurídico para obter o título, que pode demorar até uma década.

Com 12 equipas formadas por seis investigadores, o censo começa em abril e segue até ao final de julho ou início de agosto. Há muitos locais acessíveis apenas de barco e a maioria está nos estados do Pará, no norte, e do Maranhão, no nordeste.

Entre 70 a 80 pessoas irão recolher os dados de 11 mil famílias e contam com o apoio de mais de 200 lideranças quilombolas.

Os primeiros resultados do censo deverão ser conhecidos em novembro, o mês da consciência negra.

A partir desta recolha de dados, informou Júnia Quiroga, “será possível traçar um georreferenciamento dos domicílios e dos equipamentos sociais disponíveis para as comunidades, como os postos de saúde, escolas, centros de referência de assistência social e pontos de cultura”.

Serão analisadas também as condições de infraestruturas nos domicílios, como saneamento e água potável.

Atualmente, sabe-se que 52 mil famílias quilombolas são beneficiárias do Bolsa Família, programa social de transferência de renda que marcou o governo Lula da Silva e que deverá ter continuidade ainda com Dilma Rousseff.

O censo deverá ser realizado a cada cinco anos. “É um prazo razoável para avaliar as mudanças e fazer novas estratégias para políticas ou reconfigurar essas ações”, afirmou Júnia Quiroga.


http://www.correiodominho.com/noticias.php?id=45828

sábado, 2 de abril de 2011

Agroecologia preserva mananciais


Tânia Rabello, de O Estado de S.Paulo

Uma revolução silenciosa começa a tomar corpo na região de mananciais do município de São Paulo, no extremo da zona sul. Esta revolução passa necessariamente pela agricultura e pode se tornar uma alternativa efetiva para preservar o meio ambiente e a água consumida pelos 19 milhões de habitantes da Grande São Paulo.

Filipe Araújo/AE
Filipe Araújo/AE
Produtores da capital, como Batista, que quer produzir cachaça orgânica, assinaram o Protocolo

Números surpreendentes se escondem nas fronteiras do município, não só na zona sul, mas também nas zonas norte e leste, onde se abrigam, no total, 402 agricultores cadastrados. A área agricultável da megalópole paulistana representa 15% da superfície do município, de 1,5 milhão de quilômetros quadrados. Em plena capital se produzem hortaliças, plantas ornamentais e grãos. É na área de mananciais, as Represas Billings e Guarapiranga, que está a maioria desses agricultores: 311. O restante mantém lavouras na zona leste, com 50 agricultores, e zona norte, com 41.

O "nome" da revolução é agroecologia. E o sobrenome é "Protocolo de Boas Práticas Agroambientais". Até agora poucos, porém empolgados, 34 produtores da região de mananciais assinaram o protocolo, proposto em setembro de 2010 pelo governo estadual e pela prefeitura. Eles devem servir de exemplo para alguns ressabiados agricultores da região, que aguardam por resultados positivos antes de aderir.

Conservacionismo. A assinatura significa que esses agricultores se comprometem a adotar práticas agrícolas sustentáveis, entre elas abolir o uso de agrotóxicos e adubos químicos e preservar mata nativa, nascentes, prevenir erosão e manter o solo permeável, desistindo, por exemplo, do uso da plasticultura (estufas). A região é pródiga em hidroponia, técnica de cultivo que utiliza adubo químico solúvel em água e o plástico nas estufas. O prazo estipulado pelo protocolo para a conversão para a agroecologia é 2014.

"A ideia é transformar essas áreas, a médio prazo, em polos produtores de agricultura orgânica, além de garantir meios justos de comercialização e escoamento da produção", ressalta a diretora do Departamento de Agricultura e Abastecimento da Secretaria de Abastecimento do Município de São Paulo, Nadiella Monteiro.

"Fixando-se na atividade, além de garantir uma forma ambiental e economicamente sustentável de vida, o agricultor não fica forçado a vender a terra, eliminando o risco de ela se transformar em loteamentos clandestinos, uma das principais ameaças à qualidade das águas que abastecem a capital", explica Nadiella.

Em troca à adesão ao protocolo, o município dá assistência técnica especializada, por intermédio das Casas de Agricultura Ecológica. São três: a Unidade Sul, a Unidade Leste e a Unidade Norte. Na Unidade Sul, a Casa de Agricultura Ecológica José Umberto Macedo Siqueira, em Parelheiros, há dois engenheiros agrônomos, um engenheiro ambiental e uma estagiária de agronomia.

Cachaça orgânica. "Eu nunca havia tido nenhum tipo de assistência por aqui", diz o produtor José Geraldo Batista, de 45 anos e agricultor desde os 7, quando ajudava o pai, em Minas Gerais. Nos 7 hectares que arrenda para plantar cana e uma ornamental chamada "buchinha", conta com a assessoria da Casa de Agricultura e acabou de formatar um projeto de 80 mil litros/ano de cachaça orgânica. "Só falta a Cetesb autorizar", comemora Batista, que, não fosse a assistência dos agrônomos, teria cometido o erro de construir o alambique a menos de 30 metros de um curso d"água. "Tive de parar a construção, após receber orientação."

A cana já viceja no campo e ele espera produzir as primeiras garrafas de cachaça orgânica "made in Guarapiranga" até o fim do ano. Enquanto isso, Batista tem renda vendendo a buchinha a atravessadores. "Leva dois anos para colher e eles me pagam só R$ 2 por unidade. É muito pouco", lamenta ele.

Outra empolgada agricultora é Valéria Maria Macoratti, que cultiva, em sociedade com Daniel Petrino dos Santos, 3 hectares de hortaliças. "Fiz uma aposta com Daniel, de que conseguiríamos produzir sem adubo químico e veneno", conta ela, que há um ano abandonou o cultivo convencional. "A produção vai muito bem." Além da assistência técnica, Valéria conseguiu vaga num curso de agricultura biodinâmica e está aprendendo a fazer bokashi, um adubo à base de farelo de trigo, farinha de osso, torta de mamona, vermiculita e micronutrientes. "Se comprasse pronto, pagaria mais. Vamos fazer no meu sítio e dividir custos e o adubo."

Mauri Joaquim da Silva, do Bairro Lagoa Grande, em Parelheiros, se considera um dos maiores incentivadores para que os produtores assinem o Protocolo. Ele já começou a adotar práticas conservacionistas em sua horta e torce para que os vizinhos, boa parte deles adeptos da hidroponia, se convençam e assinem também.

"Tive vários problemas, sobretudo com atravessadores, e estava falido", conta Silva, que tem 33 anos e retomou o ânimo com a agroecologia, após fazer um curso da ONG Cinco Elementos, que atua na região com recursos do Fundo Estadual de Meio Ambiente. Agora, em 40 mil metros quadrados, só utiliza práticas conservacionistas e estimula os companheiros a formar uma cooperativa. "Ela ajudará na certificação orgânica, mas principalmente na comercialização", acredita.


http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,agroecologia-preserva-mananciais,59664,0.htm


Feira da Esperança e da Solidariedade: alimentos diretos da roça

Agroecologia é principal arma dos camponeses diante da ameaça dos agrotóxicos, que já chegam a cerca de 900 milhões de litros por ano em nossa alimentação.


por Ascom MST

Desde as primeiras horas da manhã desta sexta-feira (01), está acontecendo a Feira da Solidariedade e da Esperança, parceria da Arquidiocese de Maceió com os movimentos de luta pela terra do Estado. A abertura que ocorreu às 8h30 tem programação até a tarde do sábado (02). Na noite desta sexta (01), haverá o lançamento do filme “A Bota Velha é Nossa” e o forró pé-de-serra anima feirantes e visitantes. Há uma expectativa de que 50 feirantes oriundos de municípios como São Miguel dos Milagres, Água Branca, Atalaia etc. forneçam durante a feira macaxeira, feijão de corda, farinha, coco verde, galinhas de capoeira, mel, mamão e outros produtos da reforma agrária, livres de agrotóxicos.

Pela primeira vez desde o início da política agrária em Alagoas, as quatro principais organizações de luta pela terra se juntam para dar uma demonstração de peso da produção dos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária no Estado. Esta aliança entre os movimentos sociais e pastoral vem se fortalecendo graças a conjuntura adversa pela qual tem passado o campo alagoano (com enxurrada de reintegrações de posse a ataques na mídia), o que obrigou as organizações a se alinharem. Desde então, o recado dado por CPT, MLST, MST e MTL tem sido o da valorização da Reforma Agrária, política que beneficia o trabalhador rural, mas também as famílias na cidade que usufruem de alimentação saudável e diversificada.

Diante da ameaça do atual modelo agrícola brasileiro, que derrama sobre nossos solos e nossas mesas milhões de toneladas de agrotóxicos todos os anos, a luta pelo direito à terra apresenta os conceitos de segurança e soberania alimentar. Com a produção baseada em técnicas de agroecologia, a agricultura familiar é responsável, segundo o Censo Agropecuário de 2006 (divulgado pelo IBGE) pela chegada à mesa das famílias brasileiras de uma alimentação saudável, livre de agrotóxicos e diversificada e garante o controle da produção de alimentos pelo próprio povo (contrariando a lógica das poucas multinacionais que controlam a produção e distribuição de alimentos no mundo inteiro). Os produtos vindos diretamente da roça não passam por atravessadores, o que aumenta a renda do produtor/comerciante e influi diretamente no desenvolvimento das localidades em todo Estado.

Estes produtos, que também circulam nas feiras nos municípios, têm uma receptividade assegurada quando chegam à Capital Maceió. As feiras de produtos da Reforma Agrária já entraram para o cotidiano e para o calendário da cidade e a população tem lotado as praças que as recebem para consumir alimentos saudáveis. É uma demonstração da possibilidade de relação cooperada e solidária entre campo e cidade, em que o povo urbano assume a dependência dos camponeses e a importância de relações conscientes com a Terra.


http://www.primeiraedicao.com.br/?pag=maceio&cod=11463