Agroecologia é uma ciência que se propõe a compreender os agricultores e o meio onde eles estão produzindo, buscando interação harmônica entre organização e acesso aos meios de vida, ou seja, formas de produção e meio ambiente. É importante, entretanto, que uma questão seja desde já esclarecida: a de que Agroecologia é um saber que ainda está em debate na sociedade civil, universidades, movimentos sociais, assim como no Instituto Agroecológico.
No decorrer dos anos, vários debates vêm sendo travados na busca de compreender essa relação do homem com o seu meio. Conforme a ciência vem percebendo a complexidade destes debates, vem surgindo um novo paradigma de que a ciência não é mais a detentora da verdade, mas que essa verdade está sempre sendo descoberta ou reinventada pelas diversas formas de saber. Todavia, não se trata apenas de uma forma de saber, mas de fazer. E é nesse cenário que se insere a Agroecologia, questionando o grau de entendimento do processo da produção, buscando um produtor que tenha consciência da qualidade do manejo integrado da produção e do cultivo, e que não busque apenas uma troca alienada de um pacote tecnológico convencional por um orgânico.
É no ambiente histórico de contraposição à chamada Revolução Verde que surge o pensamento Agroecológico, sendo, assim, importante conhecer um pouco dessa forma de produção. A chamada Revolução Verde propunha produzir alimentos em grande escala e em pouco tempo, afirmando que esse incremento de produção sanaria a fome do mundo. Para tanto, ela se utilizava de uma tecnologia, que compreende maquinários e insumos químicos, os quais não eram, então, apresentados como prejudiciais ao homem e ao meio. Além disso, a forma social em que se organiza o trabalho é realizada em uma área extensa (conhecida como latifúndio), de maneira semelhante à produção industrial, onde o trabalho é simplificado, sendo em sua maior parte executado por máquinas. Nesse caso, a experiência da produção não é vivenciada pelos trabalhadores (diferentemente da produção rural tradicional), tampouco seus ganhos são partilhados entre os trabalhadores envolvidos, ficando concentrados apenas nas mãos do proprietário.
Esse pacote produtor se impunha dominante e se anunciava em nome do progresso. Sendo uma forma rápida e fácil de produção, muitos dos pequenos agricultores aderiram a essa forma de cultivo, tendo em vista uma inserção no mercado que lhes exigia uma produção cada vez maior e de pronta entrega. Umas das conseqüências foi o acirramento da concorrência entre os pequenos produtores e, conforme uns se destacavam, outros eram mal sucedidos, recorrendo a outras formas de organização para a sobrevivência. O Estado, peça fundamental para compreensão deste cenário, impunha essas formas de produção através de serviços como a ATER (assistência técnica e extensão rural) ou de políticas públicas que possibilitassem às famílias conservarem sua condição de exército de mão-de-obra reserva.
As diversas conseqüências causadas por esse modelo produtivo, tais quais o desmatamento, a poluição da água e do solo, alimentos intoxicados, precarização abusiva do trabalho e perda da biodiversidade evidenciaram-se, fazendo com que medidas precisassem ser tomadas. A partir de então, novas propostas vêm sendo apresentadas, buscando suprir os prejuízos causados ao meio ambiente. Uma das formas encontradas de enfrentamento foi a preservação de áreas naturais intocadas, que compreendia a relação do homem como exploratória, e a única solução possível era um distanciamento do homem das áreas a serem preservadas.
Além disso, várias formas de cultivo foram sendo desenvolvidas, formas que visavam uma redução do impacto sobre o meio ambiente e alimentos mais saudáveis. A relação do homem com a natureza também começava a ganhar um novo tom, buscando uma maior preocupação com as ações e suas conseqüências. Estas, entretanto, não eram causadas por uma relação hermética homem-propriedade, mas por uma relação econômica que acaba se impondo aos indivíduos, exigindo dos produtores uma concorrência de mercado cuja lógica se preocupa exclusivamente com o aumento do lucro, descartando a possibilidade de conservação dos recursos.
Os pequenos agricultores começaram a ser eliminados na concorrência, restando a eles se inserirem na divisão social do trabalho como trabalhadores, o que, na maioria das vezes, ocorreu de maneira informal e precária. Em algumas ocasiões, era possível a esses trabalhadores retornarem à propriedade na tentativa de reerguê-la, junto à sua família. Dadas as condições das famílias, passaram fazer ações reivindicatórias, através de movimentos sociais (Via Campesina), organizações de trabalhadores rurais, movimento dos pequenos agricultores, entre outros, obrigando o Estado a alguma resposta, muitas vezes imediatistas. Passaram a surgir políticas públicas e instituições que visavam contribuir com a melhoria das condições do trabalho no campo.
Essas medidas buscavam colaborar com melhoria das condições de vida. Ações voltadas para a saúde, alimentação e educação também foram exigidas pelos trabalhadores do campo, entretanto, as políticas públicas são realizadas (quando realizadas) em sua maioria de maneira muito precária. A região urbana (cenário que deve ser contemplado pela agroecologia) também sofre com a precariedade desses serviços, de tal sorte que o resultado dessas medidas é apenas a amenização e contenção dessas exigências e não a melhora do funcionamento do serviço público.
E o Instituto Agroecológico acredita ser esse o contexto histórico, buscando contemplar estes vários setores da organização da vida, que compõe a agroecologia. E é importante lembrar que a agroecologia não encontra fronteiras rurais ou urbanas, ao contrário, compreende essas relação num todo, cujas exigências e as obrigações devem ser partilhadas por toda a sociedade, bem como os ganhos do trabalho realizado com qualidade, igualdade e ecologicamente sustentável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário